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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sim, o Rock ainda respira…

homero-rocker-copia A preguiça me consome. Mesmo diante da grande vontade de vir aqui deixar meus devaneios, é ela quem dá as cartas. Minhas horas de folga hoje em dia, são dedicadas exclusivamente ao ócio. Entretanto, consegui este hiato entre a vadiagem e o nada a fazer, para relatar uma passagem, diria eu, interessante do cotidiano. Antes, porém, um pouco de história para ilustrar.
Quando há aproximadamente 5 anos vim morar em Barbacena, os raros finais de semana que aqui passava, costumavam ser enfadonhos e cansativos. Poucos contatos, pouca grana, enfim, a mistura perfeita para ficar em casa, refém da tv.
Meu amigo Ricardo, estava mais ou menos na mesma situação, e então, costumávamos sair para fazer aquilo que vem incrustado no dna do capelanovense e todos (ou pelo menos a maioria) fazem com maestria: beber.
Numa de nossas andanças pela cidade à procura da cerveja perfeita, nos deparamos com um cartaz afixado na parede do shopping, anunciando um tal Festival de Bandas de Rock (não me lembro o nome exato) e para nosso deleite, era bem ali perto, na lendária Taverna. Curiosamente, eu vestia uma camisa do Marilyn Manson e portanto, já estava à caráter. Ricardo, vestia uma camisa amarela, ou vermelha, que a gente chamava de visual pop-rock-mauricinho. Ele não se sentiu muito à vontade, mas resolveu ir assim mesmo.
O importante nisso tudo, foi que ali, em meio às trinta e poucas latas de itaipava que tomamos naquele dia (sim, nós bebemos com pressão), encontramos uma galera bacana, “engajada” no rock e passamos assim, a acompanhar mais de perto a cena,  que até então era por nós desconhecida.
Depois daquele vieram alguns shows avulsos, algumas edições do Pop Rock, do Metal Fest e algumas do Rock Solidário. Todos recheados com altas doses de desorganização e amadorismo, essenciais à cultura (que tornam tudo mais interessante) e inquestionavelmente impregnados da “atitude Rock and Roll”, tão rara nos dias de hoje. Sempre fui com grande prazer a esses eventos. Mesmo que o setlist dos shows não agradasse completamente, só o fato de estar ali, já era muito bom.
Lamentavelmente, nos últimos tempos os shows foram diminuindo drasticamente. Acho que de todos os que falei, apenas o Rock Solidário continua sendo realizado anualmente. Por que? Provavelmente pelas mesmas respostas que deixamos coisas agradáveis ficarem de lado em nossas vidas.
Foi nesse clima de nostalgia, que recebi o telefonema de (adivinhem!) Ricardo, me dizendo que neste fim de semana haveria um festival de metal aqui. Me perguntou se eu viajaria ou se ficaria. A princípio eu havia planejado ir à terrinha, mas logo fui empolgando com a ideia do revival Rock n’ Roll e quando um outro amigo, Thiago, também inseparável nessas empreitadas, também me chamou, não resisti e resolvi ficar.
Por força dos horários, Ricardo acabou não vindo. Mas, na hora marcada, estávamos lá na porta. Em alguns segundos, identificamos grande parte do pessoal, com suas garrafas de vinho Canção e toda pose dark, exigida pela ocasião. Estranhamente lá dentro não vendiam bebidas alcoolicas, o que segurava muita gente do lado de fora. Inclusive nós.
Tomamos algumas antes de entrar e fomos conferir o show que rolava. No momento era uma daquelas bandas do mais vil metal, que hoje já não me agradam tanto. A velhice chega pra todos, mas ainda estou longe de ser um tiozão editor de revistas de metal. Apenas aprecio outras vertentes.
A cena era a mesma de la belle epoque. Garotos pulando, simulando lutas e a maioria balançando a cabeça – é claro. O som mal equalizado e o vocalista sendo abafado pelos instrumentos. Tudo normal. Só a ausência da bebida que nos incomodava. Justificável pela presença maciça de menores no local. Se a renovação dos admiradores do Rock depende disso, acho um preço justo. Mesmo assim, descemos e voltamos à rua pra beber um pouco mais. (Velhas Virgens continuam sendo uma grande influência).
Foi quando o ápice do evento ocorreu. Eu caminha em direção ao bar, quando um molequinho de uns 10 anos, sentado na calçada à paisano, olhou pra minha camisa branca (sim, branca), com a abreviatura de corrente alternada/corrente contínua estampadas em vermelho e disse: “AC/DC!!! Angus Young é o cara!!!”. E eu empolgado: “É sim, ele é o cara! Mas você também é!”
Naquele momento eu vi que nem tudo está perdido. Que em meio a Restarts, Fresnos e NXzeros, tigrões e cachorrões e merdas e bostas de todas as espécies que a mídia insiste em querer fazer descer guela abaixo, o Rock ainda respira. E da mesma forma que surgiu e cresceu e por grande tempo dominou. Underground. Sem fronteiras e independente. E com um pouco de boa vontade, ele nunca deixará de existir. O Rock é tão mitológico quanto a Fenix e ressurge das cinzas quando menos se espera. E mesmo em meio a toneladas de influências plantadas, sempre haverá um garotinho que achará que Angus é o cara! Seja Angus, Dio, Ozzy, Dickinson, Matos ou quem for. O importante é que o Rock vai viver.
Voltamos ao festival e ficamos sabendo que só tocariam composições próprias. Não desmerecendo a boa vontade daqueles que começam e sustentam o Rock ainda hoje, eu estava mesmo a fim de ouvir algum cover bacana. De qualquer modo ficamos mais um tempo até que a ausência da cerveja falou mais alto e fomos embora. Já estava de bom tamanho. Aquele tempo ali, serviu para rever pessoas, conhecer outras (mesmo sem aproximação ou contato) e constatar que o velho Rock and Roll tem seu lugar em meio à nova geração. Mesmo que as rádios não apoiem e a tv insista com seus excrementos, sempre haverá garotas com seus vestidos pretos, cabelos coloridos e maquiagem chocante. E garotos de coturnos, envergando preto de cima a baixo e crucifixos e símbolos ocultistas no pescoço. Pode parecer brega, mas o espírito sobrepõe qualquer tendência. Aliás, essa é a diferença do Rock para outros estilos. Ele não tem nada a ver com moda. Tem a ver com amor. E o amor é capaz de superar qualquer obstáculo. Vida longa ao Rock and Roll!!!

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